quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Equilíbrio Entre Trabalho e Vida Pessoal

Work Life Balance (WLB), termo bastante utilizado nos dias de hoje dentro das grandes corporações para tentar definir a tênue linha que separa o trabalho da vida pessoal de seus funcionários. Se considerarmos que o trabalho começa quando o funcinário põe o pé na empresa e acaba quando ele bate o ponto no final do dia, essa separação é bastante clara e objetiva. Porém, a tecnologia está ajudando a deixar essa separação cada vez mais embaçada. Celulares, pagers, Blackbarries, notebooks e afins, contribuem para suprir a necessidade das pessoas de estarem sempre alcançáveis ou "conectadas". Mas conectadas com o quê? Usuários aficcionados por tecnologia e informação, desejam estarem conectados com o mundo a fora e com todos os acontecimentos e novidades. Estes são os consumidores mais vorazes de informação e conectividade. Por outra lado, existem os funcionários das grandes empresas, não necessariamente interessados em estarem sempre disponíveis aos seus chefes ou equipe quando fora do horário de trabalho. A esses a necessidade de estar conectado é equivalente a "estar disponível". Sempre!

Ao chegar em casa, o Blackbarry continua vibrando alucinadamente anunciando novos e-mails e comunicados importantes. Ceder a tentação é quase impossível e não raro o, agora pai em sua casa, volta a ser o empenhado funcionário da sua empresa enquato senta a mesa para jantar. Entre uma conversa e outra tem que responder àquele e-mail urgente, ou aprovar aquele último relatório que chegou. A atenção dedicada a família passa a ser disputada entre conversas quebradas e mais "bipes" que ecoam dos maravilhosos aparelhinhos tecnológicos.

Esse assunto me veio a mente por causa da aparente batalha entre os objetivos profissionais e pessoais. Será que existe uma separação aqui? O trabalho não deveria ser apenas o meio pelo qual chegamos as realizações pessoais? Na prática é difícil encontrar o equilíbrio. Estou começando a acreditar se tratar de uma metáfora. Quase invariavelmente pessoas muito bem sucedidas no mundo dos negócios devem ao seu sucesso uma boa parcela de negligência à família. Não canso de contar os exemplos, que aparecem aos montes sempre que leio sobre alguém genial que fez algo extraordinário. 

Estou lendo o livro Os Mestres do Jogo, Por Dentro da Nintendo, de David Sheff. Um clássico muito raro de ser encontrado, publicado em 1993 - agradeço ao meu cunhado, um maníaco por video games, por ter me apresentado esta obra - que fala sobre a história da Nintendo e dos gênios por traz dessa incrível indústria. Hiroshi Yamauchi, o grande mentor, que comandou com braço de ferro sua poderosa organização por décadas levando a Nintendo de uma fábrica de cartas a uma das maiores corporações do mundo, é um exemplo do meu argumento. Mantinha um relacionamento de fachada com a esposa e negligenciava até as práticas milenares japonesas de sentar-se a mesa com a família. A sua filha, profundamente traumatizada pelo relacionamento escasso com o pai, acabara casando-se com um homem com menos pretensões e ambições do que o pai, pois não queria aquilo que virera na infância para ela e nem para a sua nova família. O seu marido viria a se tornar o braço direito do pai na NOA (Nintendo Of America) e ela viveria um pesadelo durante muitos anos.

Richard Stallman, o guru do Software Livre uma vez perguntado mencionou que não pretendia se casar ou ter filhos, pois teria que se dedicar a sua família e não mais a sua causa. Mais do que nunca, casar-se nos dias de hoje tornou-se uma decisão difícil e um exercício de planejamento de uma vida. Até que ponto queremos perseguir nossas ambições pessoais - as vezes mesquinhas - em detrimento da felicidade no seio familiar? Não falo da fugacidade de prover bens materiais nem de comprar comida, mas de viver intensamente o amor, a atenção, o cuidado e o partilhar que se perde diariamente dentro dos nossos lares.

Um Feliz Natal a todos!
[]'s
Zz.